Se perguntar a atletas do futsal e do futebol juiz-forano qual foi o treinador mais marcante que já tiveram, grande parte irá responder Sérgio Moraes. O técnico, que ministra aulas das duas modalidades no Clube Bom Pastor há mais de 30 anos, foi responsável por revelar jogadores que passaram por grandes times, como Raphael Botti – ídolo no Japão e ex-companheiro de Romário, no Vasco -, e Thomás Jaguaribe, ex-Flamengo e Sport. Foi de responsabilidade dele também lançar atletas para o exterior, como o caso de Julio Rangel. Porém, o mais importante são os aprendizados pessoais que “Mora”, como é chamado pelos alunos, deixou para cada jogador.
Esse carinho de todos que passaram pelas orientações de Moraes tornou-se ainda mais perceptível em 2024. No dia 3 de março, o técnico de tantas crianças e adolescentes teve um Acidente Vascular Cerebral (AVC) Isquêmico, que o deixou com algumas sequelas, como o lado esquerdo do corpo paralisado e a impossibilidade de andar. Uma vaquinha on-line foi criada para ajudá-lo a custear dois meses de uma reabilitação intensiva, que, segundo a descrição da ajuda solidária, “é crucial para uma recuperação diferenciada”. Até a edição desta matéria, foram arrecadados R$ 26 mil dos R$ 45 mil pretendidos, apenas uma semana após o início da vaquinha. Os interessados em doar devem clicar neste link. No momento, Moraes necessita também de cuidados específicos, como tratamento intensivo com fonoaudiólogo, psicóloga e fisioterapia.
De acordo com o presidente do Clube Bom Pastor, Luiz Gustavo Micherif, a agremiação tem dado suporte para Sérgio. “Desde o primeiro momento, nos preocupamos bastante, estamos honrando com os repasses que ele tem direito. Sérgio é uma pessoa muito relevante para o clube, foi criado ali dentro, veste a camisa do clube. O pai dele foi diretor de esportes e o irmão integra a diretoria. A nossa comunidade toda está muito sensibilizada e cooperando tanto na questão financeira quanto com emocional e com boas vibrações”.
Importância de Sérgio Moraes para pai e filho
O atleta de futevôlei Henrique Gonzalez, de 22 anos, é um dos “filhos” mais próximos de Moraes. Ele começou a treinar no Clube Bom Pastor quando criança e permaneceu até a categoria sub-20, a última que a agremiação possui. A amizade, entretanto, não só permaneceu, como também cresceu. “Sérgio Moraes significa eterna gratidão e aprendizados. Ele foi o principal responsável por futebol e futsal serem uma das minhas maiores paixões. Devo muito a ele diversas experiências, realizações e conquistas pessoais. Mas o principal é que desde que me entendo por gente, nos primeiros passos no Bom Pastor, ele me abraçou e tivemos uma relação de família, sempre no caminho certo e dividindo muitas alegrias”, frisa Henrique.
Como responsável por iniciar essa história de amizade, está Marcelo Coelho, de 42 anos, pai de Henrique. Foi dele a ideia de colocar o filho na escola do Clube Bom Pastor, justamente por Moraes ter sido seu treinador na infância. “Ele faz parte da minha vida. Me mostrou a importância de respeitar o próximo e a família, de trabalhar duro, de dizer não ao racismo e ser uma pessoa melhor. Só tenho a agradecer por tudo que ele fez”, comenta Marcelo.
Sérgio Moraes foi treinador de milhares de atletas em mais de três décadas na profissão (Foto: Jessica Pereira/CBP)
“Crescemos escutando”
Em 2005, o hoje estudante de jornalismo Igor Neves tinha apenas 3 anos e queria começar a participar da escolinha no Clube Bom Pastor, no bairro em que mora. Entretanto, o local só permitia que crianças a partir de 5 anos se matriculassem. Mas Moraes viu talento no garoto e o deixou integrar a equipe, mesmo dois anos mais novo que os demais.
“Aprendi tudo do esporte com ele, quase todo dia eu estava lá no clube. O trabalho que ele faz é muito legal, a forma que ele trata os meninos, faz com que eles cresçam e tenham um laço de amizade, de pai para filho. Sempre foi aquele treinador que gosta de falar durante os treinos e jogos, é um cara que crescemos escutando a voz na beirada da quadra, mas também sempre nos tratando muito bem. Muito educado, cordial e merece tudo de bom”, deseja Igor.
Inspiração profissional
Para Gabriel Rossi, goleiro de 20 anos que representa Juiz de Fora na Copa Integração de Futsal, Sérgio Moraes se tornou referência para sua trajetória profissional. Ele cursa educação física e, desde que começou na faculdade, tem Moraes como espelho. Rossi é treinador do time Pantanal FC, de Rio Pomba, que disputa a Copa Prefeitura de Futsal na categoria sub-20.
“Sérgio foi um dos treinadores mais importantes da minha carreira. Com ele, comecei a entender sobre posicionamento e táticas de jogo. E no quesito pessoal, meu desenvolvimento passou muito por ele, é um exemplo em Juiz de Fora. Hoje, me inspiro muito nele como companheiro de profissão, já que estou iniciando como técnico”.